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Este conto não leva nenhum personagem dos meus livros, mas achei que seria legal variar um pouquinho! rsrsrs

Aqui tem um vídeo e o conto! 😉 


foto ilustrativa




Uma decisão óbvia
 
 
Eu vou explicar porque estou tomando essa decisão.
Não se assustem. Não é nenhum motivo moral ou algum tipo de protesto.  
É uma obrigação.
Vou explicar direitinho e vocês vão concordar comigo.
Ontem foi a festa junina de meu filho Marquinhos, de 7 anos, na escola. Havíamos treinado a dança de quadrilha da escola por um mês inteiro. Por trinta dias aquela mesma música que já parecia ter um único acorde: “acorda, Maria Bonita…acorda, vem fazer o café…” As perninhas dele já não trançavam tanto.

Ele acertava os passos, sabia mexer bem, batia o pé no ritmo da música. Eu estava orgulhosa. Ia ser o melhor aluno dançarino com certeza! Provavelmente o escolhido para ser o “par do casamento” com a Maria Bonita, uma loirinha da turma dele. Tiraria um milhão de fotos, seria parabenizada, e tanto ele quanto eu seríamos o centro das atenções.
E fomos.
Mas não da forma que eu gostaria.
Marquinhos já sabia até cantar a música direitinho. Levei-o ao armarinho e vi que as roupas de festa junina já estavam muito batidas. Não, meu filho teria o melhor.
Levei-o à costureira e mandei fazer uma sob medida. Levou uma semana para ficar perfeita, sob muitos protestos de Marquinhos e promessas de sorvete. O chapéu, ah, esse foi feito pela avó e todo decorado com trigo. Não sei como ela conseguiu fazer ficar tão bonito.
Os meus dias foram corridos. Entre compras e trabalho, momentos de folga à noite para não enlouquecer, quase não pude dar atenção ao Marquinhos nos deveres. Mas ia valer a pena.
No dia, contratei um fotógrafo profissional. Até parece que eu ia confiar naquele fotógrafo de anos da escola! Ele teria dezenas de alunos para fotografar e não daria a atenção que meu filho precisaria. Comprei a melhor roupa xadrez para mim e meu marido. A família apareceu em peso. Eu sorria de ponta a ponta até a dança começar.
E de repente tudo o que eu queria era que ela terminasse o mais rápido possível.
A música começou naquele ritmo super conhecido por mim e pelo Marquinhos. Mas ele começou a errar todos os passos. TODOS. Não teve um que acertou. Quando todos iam para um lado, ele ia para o outro. Quando todos pulavam, ele agachava. Quando todos agachavam, ele caía sentado. Parecia que estava fazendo de propósito.
Como não podia deixar de ser, todos riram. Os professores, os alunos, as outras mães, até Jonas, meu marido! Eu estava sendo feita de palhaça! Fiz “psiu” para o Marquinhos mandando-o acertar o passo, mas ele só me viu, acenou e deu risada.
O resto da música foi um desastre só. Cobri o rosto de vergonha. E é claro, o fotógrafo pegou todos aqueles momentos constrangedores sem deixar escapar um só. Inclusive, até o fotógrafo da escola se concentrou mais no Marquinhos do que nas outras crianças.
Cheguei a pensar em dar uma surra no meu filho quando ele chegasse em casa. Em deixá-lo de castigo. Sem videogame por um mês. Estava se divertindo muito me deixando vermelha daquela forma. Eu não podia acreditar que ele estava fazendo aquilo comigo. Senti uma pontada de traição, vergonha, tristeza, decepção. Nunca mais
eu ia terminar coisa alguma com ele; dedicar esse tempo todo para ensaiar nada, estudar nem pensar. Agora ele ia se virar sozinho!
 
Então a tortura acabou. As risadas ainda duraram algum tempo.
Subitamente ele veio correndo ao meu encontro com os braços abertos. Eu fingi que não vi – sim, fui cruel – mas Jonas o abraçou e disse que se divertiu muito.
Sinceramente, achei que ele não devia ser encorajado. O mundo vai comê-lo vivo se continuar agindo feito bobo ao invés de agir do jeito que é esperado dele.
Em casa, eu já havia feito a comida favorita dele: macarrão com batata frita. Estava com vontade de jogar no lixo, mas claro, não sou uma mãe tão ruim assim.
Enquanto ele narrava o fato ao pai durante o jantar entre risadas e comentários divertidos, eu respondia em monossílabos. Queria mostrar o quanto estava decepcionada.
Em silêncio, dei banho nele e o coloquei para dormir. Jonas foi para cama cedo também, mas eu não conseguia. Sentei no sofá e fiquei dedilhando o celular e vendo TV para tentar me esquecer do que havia acontecido. Demorei para perceber que Marquinhos estava em pé ao meu lado há alguns minutos. 
– Ai, o que você quer, Marquinhos? Não te coloquei para dormir?
– Não estou entendendo, mãe…
– Não está entendendo o quê?
– Por que está chateada?
Eu não estava acreditando no que estava ouvindo. Ele havia dito isso mesmo?
– Como assim por que estou chateada? Você esqueceu tudo o que ensaiamos!
– Não esqueci não! Eu sabia tudo!
– Ah, é? Então por que errou todos os passos? Não percebeu que todos riam de você? Que você virou o palhaço da turma?
Ele abriu um sorriso de ponta a ponta.
– Sim! Tomara que tenham filmado!
Respirei fundo para não gritar e perder a calma, mas estava por um fio.
– Marquinhos…por que…  fez… isso? Nós ensaiamos! Você me fez perder tempo!
– Não perdeu, não! – ele pareceu genuinamente magoado – Você passou ele comigo!
– Só que passei para ensaiarmos e o senhor errou tudo de propósito!
– Mas é o que você gosta, mamãe!
– Eu gosto de passar vergonha, Marquinhos?
– Não, mamãe. Gosta de coisas engraçadas.
Esfreguei minhas têmporas com os dedos. Crianças gostavam de criar todo tipo de coisa.
Talvez ele tivesse um bom motivo no mundo dele, mas neste aqui não havia um.
– Eu gosto de coisas engraçadas, Marquinhos?
– Sim, mamãe…olha. Toda vez que você está comigo, está sempre aborrecida. Nervosa com alguma coisa, zangada, correndo, resmungando, reclama à beça. Mas quando você senta com seu celular aí, você está sempre rindo, feliz… aí vi que você sempre está compartilhando vídeos com o papai e com as titias, falando de coisas divertidas com os amigos, dando muita risada. Então vi que se eu fizesse coisas engraçadas você também ia compartilhar! Aí poderia ficar mais feliz comigo também. Quem sabe a gente poderia ter um vídeo desse todo dia?
Foi aí que caí na real. Não importava todo o tempo que eu passava com meu filho achando que estava fazendo um bom trabalho. Era necessário um tempo de qualidade. Era preciso que eu prestasse atenção nele de verdade, não a atenção de uma mãe preocupada que achava que já estava fazendo meu trabalho.
Marquinhos estava sendo negligenciado por mim. Mesmo que eu passasse horas com ele, eu não estava lhe dando a devida atenção.
Senti-me péssima. Abracei meu filho e disse que ele fora ótimo. Prometi que se achasse um vídeo da festa iria compartilhar muito e divulgar bastante nas redes. E eu o fiz.
Só que aqueles foram os últimos.
Por meio desta postagem estou explicando que vou excluir tudo.
Estou excluindo minha conta no Whatsapp, meu Facebook, meu Instagram, meu blog, meu canal no Youtube, tudo. Se precisarem falar comigo, liguem lá em casa ou nesse celular mesmo, que vai servir só para atender ligação. Incrível, não?
Eu vou dedicar estes anos da minha vida para ver meu filho crescer. Para acompanhá-lo, para dar-lhe a atenção que muitos não sabem que dá para ter. Vou mostrar para ele que o mundo real é ainda melhor que o virtual porque nele podemos viver e aprender a viver.
Desculpe, família, mas creio que vocês vão receber mais visitas minhas e do Marquinhos.
Vocês também vão aprender a viver conosco.
Com esta, me despeço! Vejo vocês na vida aqui fora!
 
 
Vivianne Fair
 
 
 
 

Espero que tenham gostado!! 😀

 

 

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Sobre o Autor

Vivianne Fair
Vivianne Fair

Autora de diversos livros premiados tais como O Legado do Dragão, Quem precisa de heróis? e a trilogia A Caçadora. Gosta de inventar coisas para fazer e ama ler (obviamente)!

2 Comentários

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